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terça-feira, 29 de outubro de 2013

Malham experience: parasitology field course.

Olá, meus lindos! 

Pra variar, ainda não escrevi sobre as minhas viagens passadas a Liverpool e Stratford-upon-Avon, mas vim aqui hoje contar da minha viagem mais recente, a Malham, localizada em North Yorkshire.


Essa viagem não foi planejada pela minha humilde pessoa, como vocês podem imaginar, já que nem no mapa esse lugar tá, direito. Eu fui para Malham para um curso de parasitologia em campo, tudo organizado pela universidade, como um método de aprendizado (e futuramente de avaliação) do módulo de "Biology of Parasites".

Confesso que quando o professor, na primeira aula do ano, comentou sobre essa viagem, eu quis chorar. Faltou um sopro no olho pras lágrimas rolarem. Imaginem vocês que eu sou uma estudante de Medicina, vim para o Reino Unido na esperança de aumentar o meu conhecimento na minha área, e acabei sendo obrigada a ir para uma casa cheia de laboratórios no meio do nada para estudar microorganismos! É... trash.

Basicamente, nós ficamos 3 dias (sexta, sábado e domingo) trabalhando e saímos de lá na segunda-feira (ontem). Tudo foi de graça: transporte, comida e acomodação. O lugar onde a gente ficou se chama Malham Tarn Field Studies Centre, que como vocês podem ver pelo google maps, é uma casa, na beira de um lago, no meio do fucking nowhere. Frio, frio, frio!


E pra quê, Jesus, pra quê? 
Aqui começa a parte trash, e eu já peço desculpas antecipadas aos vegetarianos, veganos e protetores dos animais pelo o que eu vou contar aqui. Deixo claro que não foi por escolha, foi por obrigação.

Essa casa, como eu já disse, é toda equipada com laboratórios e os mais diversos equipamentos para realização de estudos de campo como esse. O nosso estudo de campo era sobre a prevalência de certos parasitas (vermes, em outras palavras) em certos animais (ratos, peixes, coelhos). E vocês já podem imaginar que para a gente procurar verme em um rato, peixe ou coelho, não é fazendo um EPF em cada um deles (EPF é exame parasitológico de fezes, para quem não sabe). Nós tivemos que abrir todos eles mesmo. Mas antes que me julguem, ninguém teve que matar, eles já vieram mortos para nossa bancada. Mortos assassinados sim, mas não pelos alunos. 

Sexta-feira foi o dia dos ratos.
Nós tivemos acesso a duas espécies diferentes de ratinhos, e cada dupla ficou responsável por abrir um. Basicamente nós tivemos que procurar por ectoparasitas no pêlo e olhos, e então dissecar o bichinho. Depois de aberta a cavidade abdominal, tivemos que abrir o intestino à procura de parasitas (não recomendo a vocês repetirem a experiência em casa, porque a parada é tão miudinha que a gente precisa ficar olhando no microscópio! E como se já não bastasse, ainda tivemos que tirar o coração e o cérebro pro professor analisar. :( 

Minha partner Beatriz abrindo o intestino do ratinho sob as lentes do microscópio.
Sábado foi o dia dos peixes.
Primeiro nós tivemos que "pescar", bem assim entre aspas. A famigerada pesca se deu em uma poça de lama no meio do matagal, que parecia razoavelmente rasa. Apenas parecia, porque - visto que eu estava usando galochas - eu adentrei com os outros no meio do laguinho e VUASH atolei até as coxas na lama. Lamentável, eu sei, mas foi a oportunidade que eu tive pra finalmente fazer amizade com as pessoas da minha sala, já que NÉ, precisei de ajuda pra sair do meio da lama. O mais engraçado é que eu afundei só um pé, o pé que deu o passo, então olha só como ficou a minha situação: 

Só deixando claro que a meia preta era tão branca como a outra.
Os procedimentos nos peixes eram os seguintes: checar a pele e guelras por ectoparasitas, tirar os olhos (!!!!), abrir os olhos pra tirar o cristalino (!!!!!) e fazer uma lâmina com o cristalino para checar por metacercárias! Ainda por cima, ainda tivemos que abrir a barriguinha pra checar por vermes no trato grastrointestinal. Foda demais, né? Pelo menos eu aprendi a fazer as primeiras lâminas da minha vida hahaha.

Visão do peixe de 3cm pelo microscópio de dissecação.
Só os olhinhos!
Ah, e uma parada interessante? Sabe aquela piadinha de "quando eu morrer vou virar purpurina"? Então, pros peixes isso é verdade hahaha! Quando eu furei os olhos pra isolar o micro-cristalino, saiu uma gosma preta purpurinada hahaha. Fiquei rindo sozinha...

Domingo foi o dia dos coelhos. O pior dia e o melhor, ao mesmo tempo.
Coelhinhos. Fluffy bunnies. Mortos brutalmente por um fazendeiro malvado com um tiro na cabeça just for the fun. Autopsiados por crazy biology students à procura de vermes. Essa foi a história.
Com os coelhos nós tivemos que fazer o mesmo que com os ratinhos, só em maior proporção. Abrir a barriguinha, conferir a situação do fígado, abrir o estômago e intestino, tirar o coração. Até aí "tudo bem". Aí começa a situação tensa: só nos estômago eu e minha partner achamos 119 vermes. Depois do estômago, tivemos que abrir todo o intestino delgado sob o microscópio de dissecação (tava limpo). Depois, todo o intestino grosso. Então, vocês já imaginaram o que tem dentro do intestino de um coelho? Aham, bosta. Isso mesmo. Muita bosta fedorenta. E sim, eu tive que enfiar a minha mão na merda do coelho pra procurar por verme. Daora, né? 

Status: na merda.
E por mais que tenha sido uma experiência nojenta, serviu pra eu ficar ainda mais próxima do pessoal da turma, porque vamos combinar? Bebendo leite ninguém faz amizade, mas abrindo o intestino de um coelho e enfiando a mão "na massa" não tem como não fazer. Foi tipos uma bonding experience. A gente podia olhar um pro outro e falar "man, we've been through some shit together, literally"
Eu ainda tive que fazer uma lâmina com amostrinha do cocô pra poder procurar por cistos, que estava limpa, como todo o intestino. 

E a melhor parte eu ainda não disse! Tudo isso foi filmado pela BBC, que está produzindo um documentário sobre parasitas a ser lançado no início do ano que vem. Então eu, mexendo na merda, olhando no microscópio, fui filmada. 
Teve uma hora que eu passei foi vergonha: estava eu fazendo de conta que olhava a mesma lâmina pela milésima vez, quando um cara parou do meu lado e perguntou como estavam as coisas. Eu continuei olhando pra lâmina e, achando que fosse o professor, falei que tava tudo bem. Aí ele deu uma risadinha e perguntou o que eu estava fazendo. Eu, daí, desconfiei e olhei pro lado pra descobrir que quem estava me fazendo as perguntas era o apresentador do programa, com a câmera atrás dele, filmando tudo! E eu, pra responder?!!!! Engoli seco e falei - com o melhor inglês que eu consegui forjar - que eu estava olhando faecal samples à procura de eggs or cysts de Taenia or Graphidium. Tremendo. TREMENDO. Aí ele perguntou se eu já tinha achado alguma coisa. E eu, que nem olhando de verdade estava, falei que unfortunately no. Risos. Infelizmente, moço, achei merda nenhuma nessa merda. Que sufoco. Agora é esperar o documentário ser lançado pra ver se essa é uma parte a ser aproveitada hahaha. 

Enfim, isso que eu narrei aí em cima foi a parte "trabalho" da coisa. Mas claro que teve diversão!
Rolou bebedeira no bar, baralho, giant jenga, passeio pelo matagal pra tirar foto, conhecer novos amigos, comer até morrer, conversar com os professores bêbados, etc.

Se você tem interesse em ver as minhas fotos "artísticas" do lugar, que era lindo, por sinal, é só clicar na foto abaixo que você vai ser redirecionado pro meu álbum do facebook com fotos de Malham! 


E é isso por hoje, lindos!
Espero criar coragem pra vir em breve contar sobre as outras viagens!

xxxxx

4 comentários:

  1. "eu tive que enfiar a minha mão na merda do coelho pra procurar por verme. Daora, né? " MORRI LENDO ISSO HAUAHUAHUAHUAHUA

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  2. Procurei no 'Salford ciência sem fronteiras' e achei o teu blog. Ri demais lendo este post. Thanks for sharing...

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