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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Human Biology and Infectious Diseases e Medicina: compensa?

Enrolei muitão pra escrever esse post, né, gente? Mas antes tarde do que mais tarde, não é o que dizem? Pois então, hoje, a pedido de muitos, incontáveis estudantes de Medicina interessados na Uni of Salford, eu vim contar sobre a minha experiência com o curso que eu escolhi: Human Biology and Infectious Diseases (HBID).

Featuring: cara de bolacha.
Como vocês podem ler aqui e aqui, eu tive motivos o suficiente e expectativas mil para esse curso. Eu sempre fui encantada por doenças infecciosas, infectologia era (e ainda é) uma grande opção de residência e a perspectiva de passar um ano estudando só isso era surreal. Fui mega animada achando que ia terminar meu ano de intercâmbio praticamente com um título de especialista em infecto... oh well... about that... o que eu não imaginava era que o curso em si não era tão aprofundado quanto eu pensei. E não tão voltado à biologia humana assim. Mas vamos tópico por tópico?

 
Sala de aula: até aquecedor pro pezinho rola. 
No 3º ano de Human Biology and Infectious Diseases, eu cursei cinco disciplinas, e vocês podem ler a descrição oficial delas aqui, é só clicar na tab "Course Details". Eu vou dar a minha própria descrição aqui e já vou logo avisando: elas não vão ser as mais encorajadoras.

1. Advances in Pathophysiology

Nessa matéria eu passei o ano inteiro estudando duas coisas: DPOC e Asma. Sério, o ano inteiro.
A professora da disciplina era a Drª Lucy Smyth, super britânica, e as aulas eram às segundas-feiras. Então a minha primeira aula de todas na University of Salford foi exatamente dessa disciplina. E eu lembro bem que a primeira aula foi uma revisão do ano anterior... e a revisão era de que? Fisiologia cardíaca. O que me lembra que tem um causo pra contar...

 
Spotted: Profª Drª Lucy Smyth.
Bom, na primeira parte da aula a professora estava lá, com o super multimídia dela, distribuindo controles remotos para cada aluno para a gente responder os questionários que ela passava no quadro como se nós estivéssemos na plateia do Domingão do Faustão, dando nota pro Dança dos Famosos. Sério. Altas tecnologias.
Mas enfim. Vocês podem imaginar que uma estudante de Medicina, que terminou o 8º período, já passou por fisiologia 1, 2 e Cardio na faculdade, de modo que pelo menos o básico de fisio cardíaca eu sabia. O que ela estava falando na aula, eu sabia... em português. Mas as denominações em inglês eram coisas novas pra mim, então eu tive a *brilhante* ideia de ir conversar com a Lucy no intervalo.
"Hey, sorry to bother you so early, but I'm Rayra, a Science Without Borders student... don't know if you heard of it yet. Anyway, I'm a medical student, and I've studied all of this, but I'm having huge trouble with the names in English... do you have any books or references to recommend so I can catch up with the terms?" 
Ah, mas pra que. Na segunda parte da aula, acho que a professora meio que resolveu botar meu conhecimento e minha "cockiness" à prova, e começou a fazer as perguntas diretamente pra mim. Teve uma hora que ela simplesmente botou o pointer na minha mão e falou: aponta qualquer estrutura e dê o nome. Eu, com o cu na mão, consegui apontar o Nodo Sino-Atrial e dar o nome... todo cagado. "Sinoatrial.............node?" "Yes, that's right, sainoeitrial node". E foi assim que minha cara foi no chão. Mas EU AVISEI que não sabia os nomes em inglês, bosta. #chateada]

Prática de cardio, em que a gente teve que reconhecer as estruturas em um coração... de veado.
Tá, mas back to our goats, depois de passada as revisões de fisiologia cardiorrespiratória, começou o que seria a matéria real: Asma e DPOC. Fisiologia, métodos e exames diagnósticos, como fazer e interpretar os resultados de uma espirometria, visitas facultativas a um hospital, uma prática de fisiologia respiratória no exercício, e um trabalhinho em grupo. O que aliás, me lembra de outro causo...
Mr Potter fazia aula conosco, mas era o Mr Potter errado.  
Enfisema Emphysema ft. Skittles!
Graças à viagem de campo de Biology of Parasites (que eu vou contar mais abaixo), eu fiz amizades na sala de aula, e eu não fiquei sozinha pra fazer grupo. O trabalho era basicamente interpretar um caso clínico e dar o diagnóstico... mas vejam bem, só tinham dois diagnósticos possíveis: DPOC ou asma. Acontece que eu, como única estudante de Medicina da turma, resolvi que meu grupo deveria seguir um raciocínio médico: listar os problemas, dar diagnósticos anatômico, sindrômico, diferencial e hipótese diagnóstica, considerando toda a gama de doenças possíveis, inclusive (e principalmente) doenças infecciosas. Eu lembro bem de que o cara tinha um fator de risco ocupacional, inclusive. Enfim, os meninos (dois Allan's, diga-se de passagem) concordaram comigo, nós fomos o único grupo a dar diagnósticos diferenciais tão extremos como Tuberculose e Esporotricose, e também fomos o grupo a tirar a maior nota da sala: 80!
Eu acabei fazendo o meu Summer Placement também nessa área, mas isso eu conto em outro post.

Eu e Manu trabalhando duro no Summer placement.
2. Clinical Immunology

Tá, é hora de começar a admitir as furadas do intercâmbio. Minha assiduidade nas aulas de imunologia foram um tanto quanto... peculiares. Mas tem explicação.
Primeiramente, eu já havia passado por imunologia na Unirio e, diga-se de passagem, a imunologia por aqui é bem aprofundada e bem foda de passar. Não é como se eu me lembrasse de muita coisa, mas eu lembrava o suficiente pra passar na matéria sem ir nas aulas teóricas.
O foda foi as práticas. Eu me lembro bem, minha primeira aula prática de imunologia, eu e a Beatriz (que também fazia o mesmo curso que eu), com um livro de instruções pra fazer nem-lembro-o-que e eu, que não sabia nem pipetar, mais perdida que filho da p*ta em dia dos pais. Fui até o professor, Dr. Stephen Heath e pedi ajuda. Disse que eu era estudante de medicina, que no Brasil nós não tínhamos aulas práticas em laboratório, se ele podia me ajudar. O cara simplesmente olhou pra mim de cima pra baixo e me perguntou o que eu estava fazendo no terceiro ano de HBID se eu não conseguia nem pipetar. Falou que eu deveria voltar pro primeiro ano ou pagar à parte pra fazer um curso, porque ele não me ajudaria. Escroto pra cara**o.

Primeira lab class: feliz da vida pegando em uma pipeta.
Não preciso dizer que a gente não conseguiu terminar o experimento à tempo, nossos resultados foram um lixo, eu me senti um lixo e tomei raivinha da matéria né. Não fui mais às aulas práticas, tentei desfazer minha matrícula na disciplina, mas não deu... enfim. Fiz os trabalhos (não todos), e passei na matéria no final, e isso é que importa.

Eu ri pra não chorar.
Naquela tal viagem de campo eu descobri que o Dr Stephen Heath não é tão babaca quanto ele parece. Mas que deu raiva, deu.

3. Veterinary and Zoonotic Infectious Diseases

Doenças infecciosas zoonóticas e veterinárias. Veterinárias... VETERINÁRIAS. É tudo o que eu lembro dessa matéria. Juro pra vocês gente, depois que eu tive uma aula sobre tuberculose bovina, eu meio que me desestimulei da matéria. Como vocês podem ver, muitas coisinhas me desestimularam do curso no fim do dia.
Pra vocês terem uma ideia, o trabalho em grupo que eu tive que apresentar em VZID (que, aliás, eu não fiquei sem grupo graças à mesma viagem pra Malham que eu já mencionei trezentas vezes), foi sobre os parasitas do panda gigante. Sério, gente, que estudante de Medicina na vida ia querer fazer uma trabalho sobre isso. Que se dane o panda, gente, eu quero é cuidar de gente! Fiquei muito frustrada, de verdade.

4. Medical and Public Health Microbiology

Ah, o professor de MPHM era muito engraçadinho, gente! Aliás, eram dois: Dr. Richard Birtles e a mocinha, mas eu esqueci o nome dela.
A aula era pura microbiologia, e é por isso que eu fiquei meio sem saco no final das contas, porque, né, já tinha estudado tudo e passado na matéria no Brasil, meio que não queria estudar isso de novo. O que eu me lembro de todas as aulas foi quando ele comparou a sogra dele com uma vaca, e falou que nós temos 10 bactérias pra cada célula do nosso corpo. Cara, é bactéria pra cac*te.
As aulas práticas também foram muito daora. A gente teve que fazer cultura de bactérias do nosso ambiente e microbiota em diferentes meios, e isso é uma parada que eu não tinha feito no Brasil. Aliás, crescer cultura, corar culturas e fazer antibiograma, coisas muito legais que eu queria poder fazer de novo! Meu par nessa prática foi o Thiago, brazuca, CSFer e estudando farmácia, então o que eu não sabia, ele me ensinou! Foi bem legal mesmo!

Status: apaixonada pelos meus cocos Gram+
O report que é meio chatinho de se escrever. Aliás, todos os reports que eu tive que escrever eram meio insuportáveis, porque eu tive que lidar com estatísticas e gráficos, coisas em que eu não sou exatamente boa. Mas vida que segue.

5. Biology of Parasites

Essa matéria foi um mix de parasitologia e doenças infecto-parasitárias: a gente estudou os ciclos dos bichinhos e a patogênese das doenças que eles causam no corpo humano. Então, foi até gostoso de estudar, e meio o que eu estava esperando de todo o curso de HBID quando eu saí do Brasil. A minha frustração foi somente que as doenças que eles estudaram (e me fizeram estudar) foram bem básicas... tipo malária e dengue, doenças diarreicas e esse tipo de coisa. Tipo, eles estudaram dengue como se fosse a coisa mais rara do universo (e de fato, pra eles é, né). Eu assistia a essas aulas pensando: cara, essa galera podia passar um mês estudando doenças infecciosas no Brasil, e aí sim a gente ia ter uma conversa de igual pra igual.


A prática, como eu já mencionei, foi uma viagem de campo. Eu não vou entrar em detalhes, porque eu já escrevi um post só sobre isso, e vocês podem lê-lo aqui. Resumidinho, nessa viagem de campo a gente foi pra um lugar bem no meio do nada, em uma casa enorme cheia de laboratórios e quartos, e tivemos que "botar a mão na massa" pra procurar por vermes em peixes, coelhos e ratinhos. Claro que nós tivemos que escrever um artigo sobre isso depois, com todas as estatísticas ao longo dos anos e tudo... o que me fez ter que sentar a bunda na cadeira e aprender a fazer estatísticas no excel.

Rocking the chi-squared test.


 

O legal disso foi que tendo todos os alunos juntos nessa furada situação, fez com que a aproximação com eles acontecesse de modo mais natural. Rolou até professor bêbado vindo falar com a gente sobre quando ele passou um tempo no RJ, dez anos atrás, pra estudar Doença de Chagas (amigo, se quisesse estudar Chagas era melhor ter ido pra Belém, não?).

 
Malham Fashion Week
Achei muito legal também a estrutura do lugar. Muitos quartos, laboratórios, café da manhã, lanche pro almoço, jantar, um bar no lugar, biblioteca... fora o lugar em si, que era um paraíso pra aspiras a fotógrafos. Foi bem legal! Me deu até saudade, agora, por deus do céu.

 
 
David arrasando no Giant Jenga.
Sabe, eu queria voltar no tempo e tentar curtir ainda mais a situação, ir com o coração mais aberto mesmo. Aliás, olhando assim, nesse clima lookback, eu queria ter curtido mais todas as disciplinas. Percebo hoje que, apesar de não ser exatamente o que eu estava procurando, poderia ter sido bem mais engrandecedor. Mas enfim...
Minha grande conclusão, objetivamente falando, é que HBID é sim interessante para um estudante de Medicina, mas só se for um estudante que ainda não tenha rodado em Parasito, Microbiologia, Imuno e DIP (matérias que, pelo menos eu, concluí no quarto e sexto período da faculdade).
Subjetivamente, como eu concluí ali em cima, varia muito de receptividade e disposição. Eu confesso que fui perdendo o interesse na faculdade ao longo do intercâmbio, sentindo falta de hospital, medicina e contato com pacientes. Talvez se eu tivesse permanecido de coração aberto, teria tirado muito mais proveito da situação.
Mas agora já passou, e só me resta mesmo olhar com saudosismo e gratidão.

Espero que eu tenha ajudado vocês a tomar uma decisão!

Beijos!

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Malham experience: parasitology field course.

Olá, meus lindos! 

Pra variar, ainda não escrevi sobre as minhas viagens passadas a Liverpool e Stratford-upon-Avon, mas vim aqui hoje contar da minha viagem mais recente, a Malham, localizada em North Yorkshire.


Essa viagem não foi planejada pela minha humilde pessoa, como vocês podem imaginar, já que nem no mapa esse lugar tá, direito. Eu fui para Malham para um curso de parasitologia em campo, tudo organizado pela universidade, como um método de aprendizado (e futuramente de avaliação) do módulo de "Biology of Parasites".

Confesso que quando o professor, na primeira aula do ano, comentou sobre essa viagem, eu quis chorar. Faltou um sopro no olho pras lágrimas rolarem. Imaginem vocês que eu sou uma estudante de Medicina, vim para o Reino Unido na esperança de aumentar o meu conhecimento na minha área, e acabei sendo obrigada a ir para uma casa cheia de laboratórios no meio do nada para estudar microorganismos! É... trash.

Basicamente, nós ficamos 3 dias (sexta, sábado e domingo) trabalhando e saímos de lá na segunda-feira (ontem). Tudo foi de graça: transporte, comida e acomodação. O lugar onde a gente ficou se chama Malham Tarn Field Studies Centre, que como vocês podem ver pelo google maps, é uma casa, na beira de um lago, no meio do fucking nowhere. Frio, frio, frio!


E pra quê, Jesus, pra quê? 
Aqui começa a parte trash, e eu já peço desculpas antecipadas aos vegetarianos, veganos e protetores dos animais pelo o que eu vou contar aqui. Deixo claro que não foi por escolha, foi por obrigação.

Essa casa, como eu já disse, é toda equipada com laboratórios e os mais diversos equipamentos para realização de estudos de campo como esse. O nosso estudo de campo era sobre a prevalência de certos parasitas (vermes, em outras palavras) em certos animais (ratos, peixes, coelhos). E vocês já podem imaginar que para a gente procurar verme em um rato, peixe ou coelho, não é fazendo um EPF em cada um deles (EPF é exame parasitológico de fezes, para quem não sabe). Nós tivemos que abrir todos eles mesmo. Mas antes que me julguem, ninguém teve que matar, eles já vieram mortos para nossa bancada. Mortos assassinados sim, mas não pelos alunos. 

Sexta-feira foi o dia dos ratos.
Nós tivemos acesso a duas espécies diferentes de ratinhos, e cada dupla ficou responsável por abrir um. Basicamente nós tivemos que procurar por ectoparasitas no pêlo e olhos, e então dissecar o bichinho. Depois de aberta a cavidade abdominal, tivemos que abrir o intestino à procura de parasitas (não recomendo a vocês repetirem a experiência em casa, porque a parada é tão miudinha que a gente precisa ficar olhando no microscópio! E como se já não bastasse, ainda tivemos que tirar o coração e o cérebro pro professor analisar. :( 

Minha partner Beatriz abrindo o intestino do ratinho sob as lentes do microscópio.
Sábado foi o dia dos peixes.
Primeiro nós tivemos que "pescar", bem assim entre aspas. A famigerada pesca se deu em uma poça de lama no meio do matagal, que parecia razoavelmente rasa. Apenas parecia, porque - visto que eu estava usando galochas - eu adentrei com os outros no meio do laguinho e VUASH atolei até as coxas na lama. Lamentável, eu sei, mas foi a oportunidade que eu tive pra finalmente fazer amizade com as pessoas da minha sala, já que NÉ, precisei de ajuda pra sair do meio da lama. O mais engraçado é que eu afundei só um pé, o pé que deu o passo, então olha só como ficou a minha situação: 

Só deixando claro que a meia preta era tão branca como a outra.
Os procedimentos nos peixes eram os seguintes: checar a pele e guelras por ectoparasitas, tirar os olhos (!!!!), abrir os olhos pra tirar o cristalino (!!!!!) e fazer uma lâmina com o cristalino para checar por metacercárias! Ainda por cima, ainda tivemos que abrir a barriguinha pra checar por vermes no trato grastrointestinal. Foda demais, né? Pelo menos eu aprendi a fazer as primeiras lâminas da minha vida hahaha.

Visão do peixe de 3cm pelo microscópio de dissecação.
Só os olhinhos!
Ah, e uma parada interessante? Sabe aquela piadinha de "quando eu morrer vou virar purpurina"? Então, pros peixes isso é verdade hahaha! Quando eu furei os olhos pra isolar o micro-cristalino, saiu uma gosma preta purpurinada hahaha. Fiquei rindo sozinha...

Domingo foi o dia dos coelhos. O pior dia e o melhor, ao mesmo tempo.
Coelhinhos. Fluffy bunnies. Mortos brutalmente por um fazendeiro malvado com um tiro na cabeça just for the fun. Autopsiados por crazy biology students à procura de vermes. Essa foi a história.
Com os coelhos nós tivemos que fazer o mesmo que com os ratinhos, só em maior proporção. Abrir a barriguinha, conferir a situação do fígado, abrir o estômago e intestino, tirar o coração. Até aí "tudo bem". Aí começa a situação tensa: só nos estômago eu e minha partner achamos 119 vermes. Depois do estômago, tivemos que abrir todo o intestino delgado sob o microscópio de dissecação (tava limpo). Depois, todo o intestino grosso. Então, vocês já imaginaram o que tem dentro do intestino de um coelho? Aham, bosta. Isso mesmo. Muita bosta fedorenta. E sim, eu tive que enfiar a minha mão na merda do coelho pra procurar por verme. Daora, né? 

Status: na merda.
E por mais que tenha sido uma experiência nojenta, serviu pra eu ficar ainda mais próxima do pessoal da turma, porque vamos combinar? Bebendo leite ninguém faz amizade, mas abrindo o intestino de um coelho e enfiando a mão "na massa" não tem como não fazer. Foi tipos uma bonding experience. A gente podia olhar um pro outro e falar "man, we've been through some shit together, literally"
Eu ainda tive que fazer uma lâmina com amostrinha do cocô pra poder procurar por cistos, que estava limpa, como todo o intestino. 

E a melhor parte eu ainda não disse! Tudo isso foi filmado pela BBC, que está produzindo um documentário sobre parasitas a ser lançado no início do ano que vem. Então eu, mexendo na merda, olhando no microscópio, fui filmada. 
Teve uma hora que eu passei foi vergonha: estava eu fazendo de conta que olhava a mesma lâmina pela milésima vez, quando um cara parou do meu lado e perguntou como estavam as coisas. Eu continuei olhando pra lâmina e, achando que fosse o professor, falei que tava tudo bem. Aí ele deu uma risadinha e perguntou o que eu estava fazendo. Eu, daí, desconfiei e olhei pro lado pra descobrir que quem estava me fazendo as perguntas era o apresentador do programa, com a câmera atrás dele, filmando tudo! E eu, pra responder?!!!! Engoli seco e falei - com o melhor inglês que eu consegui forjar - que eu estava olhando faecal samples à procura de eggs or cysts de Taenia or Graphidium. Tremendo. TREMENDO. Aí ele perguntou se eu já tinha achado alguma coisa. E eu, que nem olhando de verdade estava, falei que unfortunately no. Risos. Infelizmente, moço, achei merda nenhuma nessa merda. Que sufoco. Agora é esperar o documentário ser lançado pra ver se essa é uma parte a ser aproveitada hahaha. 

Enfim, isso que eu narrei aí em cima foi a parte "trabalho" da coisa. Mas claro que teve diversão!
Rolou bebedeira no bar, baralho, giant jenga, passeio pelo matagal pra tirar foto, conhecer novos amigos, comer até morrer, conversar com os professores bêbados, etc.

Se você tem interesse em ver as minhas fotos "artísticas" do lugar, que era lindo, por sinal, é só clicar na foto abaixo que você vai ser redirecionado pro meu álbum do facebook com fotos de Malham! 


E é isso por hoje, lindos!
Espero criar coragem pra vir em breve contar sobre as outras viagens!

xxxxx

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Catching up: first week (of classes?).

Hello, galerinha!

Oito dias depois do último post, vim hoje fazer um apanhado geral da última semana, que foi minha primeira semana de aula. Em outras palavras, eu sou uma péssima blogueira, não dou conta de viver e escrever, e peço mil desculpas (de novo), por mais que isso seja super chato. So let's get this started!

Então, como eu já disse aqui, segunda passada, dia 23, foi o dia da minha Police Registration, então eu tive que faltar a aula da manhã, de Clinical Immunology. Mas como minha segunda-feira foi criada pelo tinhoso, eu tive aulas à tarde também, de 2pm até 6pm.

De 2pm até às 4pm eu tive aula de Advances in Pathophysiology, que de avanço não tem nada. A matéria, minha gente, e aqui eu direciono especialmente pros coleguinhas da Medicina que estão secos pra saber como é o meu curso, foi repeteco de fisiologia cardiorrespiratória. No nível: onde ficam localizados os pulmões, quantos lobos cada um tem, árvore brônquica e etc. Foi meio que... decepcionante. Mas não digo aqui que não foi útil, de certo modo. Essa aula em si foi literalmente uma revisão do segundo ano do curso, ou seja, não é o que eu vou estudar de fato, e foi bom pra dar aquela pincelada na terminologia médica em inglês, que pode ser bem complicadinha, até pra quem conseguiu o nível de proficiência sossegado que nem eu. 

Ahhh, aconteceu uma coisa engraçada nessa aula! Eu, anta como sempre fui, caí na besteira de conversar com a professora no break. Falei com ela que eu era intercambista, que eu fazia Medicina no Brasil, que eu já tinha estudado tudo aquilo que ela estava ensinando, mas que eu tinha dificuldade com a terminologia em inglês, então se ela pudesse me indicar um livro eu ia achar ótimo. Tá, até aí show. Acontece que a segunda parte da aula recomeçou e eu estava viajando na maionese, pensando na morte da bezerra, quando de repente a professora pára do meu lado, me passa o pointer e me manda nomear qualquer estrutura no slide. Caralho, mermão, caralho... qual a parte do "eu não sei os nomes das coisas do pulmão/coração em inglês" essa mulher não entendeu?! Suei frio, apontei pro nodo sino-atrial e disse "node........... sino........ eitrial.........?" pro que, gloriosamente, ela sorriu e disse "é isso aê, saino-eitrial node (sino-atrial node)". Porra, que vergonha que eu passei, mas até que me saí relativamente bem (perto da merda que poderia ter sido).

Enfim, às 4pm eu tive uma outra aula, de Medical and Public Health Microbiology, que foi só introdutória do módulo. Thing is: o professor, inglês obviamente, com sotaque britânico obviamente, é gago. GAGO. Passei metade da aula concentrada em tentar entender o que ele estava falando, e a outra metade segurando o riso. Sou palha assim mesmo.

Na terça-feira, vejam bem, eu não tenho aulas! Mas uns amigos CSFistas se apresentaram numa Open Mic, no bar da nossa Uni, e é claro que eu catei essa oportunidade de usar minha câmera nova sem dó (e beber, claro) e fui prestigiar o "Trio ternura e o amazing Zé"! Olha só que lindo que foi: 


Eu iniciando um relacionamento sério com uma pint.
E ainda, depois de toda essa cantoria, os nossos CSFistas arquitetos fizeram a gente fazer o tal do berequetê e os veteranos fizeram aquela entrevista dos trotes, sabe comé? Nome, idade, de onde é, opção sexual, curso, relationship status, etc. Tudo isso pra terminar a noite com chave de ouro, adivinhem onde! No Mc Donald's! Comendo uma Happy Meeeaaaal! :P 

Veteranos e calouros de Salford juntinhos: uma miséria de brasileiro.
Na quarta-feira, outro dia de folga, só tive aulas (que nem obrigatórias são) de 9am às 10am. Vou explicar o porquê: esse dia é reservado pras atividades direcionadas ao "Final year project", que é o TCC dos gringos. Eu entrei no terceiro ano, que é o último deles, mas como eu sou CSF, minha graduação é sanduíche e talz, e eu não preciso fazer esse trabalho de conclusão de curso (muito embora eu preferisse fazer esse e dispensar a trabalheira no verão). Então eu fui lá pela manhã, assinei o "register" e vazei. Hihihi.

Mas, porém, contudo, entretanto e todavia, na quarta mais tarde os mesmos amigos que se apresentaram na Open Mic Night se apresentaram também no Salford Music Festival! Ééé, eles foram convidados depois do espetáculo que foi a apresentação deles no bar! Então depois de dar as caras no aniversário de uma coleguinha CSF, nós todos nos dirigimos ao The Hope Pub pra assistir os amigos! Olha aí uma das músicas: 


O relacionamento virou um threesome muito daora.
Quinta-feira foi dia de Veterinary and Zoonotic Infectious Diseases, que foi - de novo - pura aula introdutória, e sexta-feira eu tive Biology of Parasites, com o mesmo professor, também aula introdutória, mas desesperadora em certo modo...

A matéria teórica é mel na chupeta: ciclo das doenças infecciosas mais importantes (que eu já vi trezentas vezes no decorrer da vida). Mas as aulas práticas, meus amigos... a gente vai ter um estudo de campo onde a gente vai passar LITERALMENTE três dias numa casa no meio do nada, caçando coelhos, ratos e peixes pra depois dissecar todos eles no laboratório. E olhar os bichinhos que vivem dentro dos bichinhos. E escrever um report acerca. Aiaiai..., chorei!

Fim-de-semana, amigos, fds é amor!
Antes que me perguntem, não, não estou clubbing tanto assim. Verdade, verdade, as últimas festas foram umas pra que eu compreo o ingresso ainda no Brasil e nem assim eu fui. Uma mistura de velhice, pobreza, preguiça... vontade de ficar conversando com o namorado o dia inteiro, etc. É, envelheci. Não me julguem.
Mas isso não quer dizer que meu fds não tenha sido curtido à sua maneira!

No sábado nós fomos turistar! Fomos almoçar na Chinatown de Manchester, em um restaurante "all you can eat": por £7 você pode comer tudo o que aguentar, inclusive sobremesa... só as bebidas que não contam nessa quantia. Se valeu a pena? Não, risos. 
Primeiro: por mais que eu tenha experimentado de um tudo daquele self-service, eu só gostei dos noodles, do omelete, do arroz, banana frita e de uma paradinha cuja textura parece de pururuca, mas é branca e com um gosto mais suave. O frango era temperado com canela. O rolinho primavera tinha um gosto esquisito. Tinha um triângulo que eu juro que tava recheado com tempero de miojo. Enfim, tenso. Tinha sopa também, mas eu acabei nem experimentando... 
As sobremesas tavam gostosas: all you can eat de abacaxi, laranja, pêssego, lichia (!!!), bolo de chocolate e sorvete. SORVETE! Mais gostoso que o do Mc. Comi milhões hahaha.
No fim das contas eu acabei pagando £10.20 (porque eu tomei dois copos de cranberry juice) e esse foi o almoço mais caro da história dessa intercâmbio so far. 

Welcome to Chinatown!
Chinese badulaques!
Quem nunca!
Noodles, omelete, banana, rolinho primavera...
All you can eat of ice cream: a lot.

E depois da comilança, uma passadinha na Manchester Art Gallery e na Manchester Cathedral, onde tava rolando um festival de gordice comida e bebida. Aí as fotinhas: 

A vida não tá fácil pra ninguém.






O churros brasileiro é mtttt melhor!
E domingo, ah, domingo. Domingo é dia de... ficar em casa. Sorte a minha que minha "casa" é gigantesca e cheia de gringos, né?
Como tava fazendo um solzinho, eu desci pra jogar bola com os gringos e brasileiros e fiquei um tempinho lá. Depois teve festinha de aniversário de outra CSFista, com direito a bolo, brigadeiro, forró, é o tchan e todo o resto! 

Enfim, o post ficou comprido, eu sei e I apologise. Mas é que a semana é sempre tão cheia que quando a gente chega em casa só quer saber de cama, namorico, amigos, conversa, comida, etc. Vocês vão ver quando chegarem!

Essa semana também tá cheia de promessas! Tem partida de futebol, blind auditions do The Voice UK, festinhas, viagem pra Liverpool... vocês vão me perdoar se eu demorar mais pra postar? Espero que sim :P 

Beijos, amiguinhos! 
xxxxx

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Police registration.

Oi de novo!
(Two days in a row IN ENGLAND? That's news!)

Vim correndo aqui com o assunto de hoje ainda fresco na cuca que é pra não deixar passar nenhum detalhe: a police registration.

Pros desavisados, o Brasil é considerado um "país de alto risco" aqui na Inglaterra, e a consequência disso é
que nós temos que dar um pulinho na polícia e fazer um registro rápido em até 7 dias depois do desembarque no Reino Unido (ao menos na teoria).

Assim que eu cheguei em Manchester já fui na faculdade resolver uma série de coisinhas, como o registro de estudante internacional, fazer a student ID, fazer o cadastro no centro médico e, entre todas elas, marcar o meu registro na polícia. Eu não sei como vai ser na universidade da escolha de vocês, gente, só sei que aqui na Uni of Salford foi assim: eu fui na Welcome Zone (WZ), que é tipo um diretório acadêmico elaborado, onde tinha um stand onde a gente já podia realizar a marcação. Leia bem: marcação. Eu fui nessa WZ dia 10 de setembro e só consegui vaga pra hoje, dia 23. Aí vocês se perguntam (do mesmo jeito que eu me perguntei, e perguntei ao atendente também): mas não tenho que fazer a police registration dentro de 7 dias depois da minha chegada? Sim, tem, em teoria. Mas lendo carinhosamente o papel que nos foi entregue no agendamento, lê-se: "Due to a large number of students needing to register you may not be seen for several weeks. This will not affect your immigration status as long as you have made an appointment." Então dá pra relaxar a periquita, sentar e esperar bonitinha a data do seu agendamento.

Bom, e o que a gente precisa pra fazer essa tal registration? Segue a lista:
  • Passaporte com o seu visto;
  • Foto em passport size/model (serve daquela leva que a gente tirou na hora de fazer o visto);
  • CAS;
  • Carta de benefícios;
  • Address confirmation (qualquer documento que tenha o endereço onde você está alocado no UK);
  • Formulário preenchido*;
  • £34 em dinheiro exato (não, eles não dão troco. Sim, você é tachado de alto risco e ainda por cima tem que pagar quase 40 libras nessa brincadeira. Mais bullying que isso só dois disso.)
*Formulário: Sem desespero que eu já vou explicar o que diacho é isso.
Quando você faz a marcação da sua visita na polícia, eles te entregam um formulariozinho pra você preencher. Ou deveriam, né, mas como eu sou eu, não me entregaram e eu tive que xerocar. Xeroquei, mas como eu sou eu, não era necessário porque eles te dão esse formulário lá na estação caso você não tenha. Enfim, quais são os tópicos?
  • Full name;
  • Place of birth;
  • Date of birth;
  • Police registration certificate number (pra preenchimento pelos officers, antes que vocês surtem o cabeção aí);
  • Name of educational institution/employer (no nosso caso, o nome da Uni);
  • Sponsor/government service;
  • Address in home country;
  • Address in UK;
  • E-mail (de uso pessoal, e não o da faculdade, de preferência);
  • Mobile;
  • Father/Mother's occupation (não tem espaço certinho pra isso no form, mas eles pediram pra eu escrever mesmo assim);
  • Please tick one of the following: Married/Civil partnership or Single;
  • Next of kin details (contato em caso de emergências no país de origem): full name, date of birth, home address, e-mail, tel);
  • If married or in a civil partnership, please complete the following details: date of marriage or civil partnership, place, name of husband/wife/civil partner, his/her date of birth;
  • Signature, print name and date.
Pagando e entregando todos os documentos pedidos, não há muito o que fazer. No final de todo o processo eles vão te pedir pra assinar o seu certificado, que nada mais é que a sua ID britânica. Isso, meus caros, a partir do momento que você tem esse documento, você não só pode, como deve deixar seu passaporte em casa, trancado a sete chaves e um lacre não violado, e carregar somente esse novo documento pelas ruas.
Ah, trívia: qualquer policial pode te parar aleatoriamente e te pedir esse certificado. Se você não estiver com ele contigo, você está sujeito a uma pequena multa de 5 mil libras e seis meses de prisão. Ó que belezura! Já não bastam te chamar de perigoso, te fazerem pagar 120 dilmas num certificado que não passa de uma folhinha A4 com umas marcas d'água e uma fotinha feia, ainda querem te cobrar um carro zero e seis meses de reclusão caso você esqueça o bonitinho em casa! Quanta pressão, Brasil, assim eu choro!
E outra: se houver qualquer alteração no seu endereço, relationship status (desculpa, não consegui lembrar o nome disso em português), lugar de estudo ou trabalho, extensão de visto ou novo passaporte, você deve reportar em até 7 dias, sob o risco de sofrer as mesmas consequências acima descritas. 

Minha "ID" britânica.
Ah! Outro serviço que eles oferecem é o de "cadastro" dos seus bens materiais, para que em caso de roubo ou perda, eles possam te devolver caso encontre. Achei até bem interessante. É só um formuláriozinho (outro) onde você explica o que é o seu bem material (celular, laptop, câmera, etc), com todos os detalhes referentes a ele e seus dados para contato. Deixei um preenchido com os dados do meu celular, e peguei mais dois formulários em branco para preencher com os dados do meu laptop e da minha shiny new câmera, porque se eu perder esses trecos eu choro quarenta dias e quarenta noites.

E essa é a saga do registro na polícia, Brasil! Mas como em vida de intercambista cada mergulho passeio é um flash, fiquem com as fotinhas e legendas de hoje (tiradas com o celular dessa vez, porque eu burra achei que a câmera seria um peso desnecessário... pobre de mim).

Chinatown!
Manchester Cathedral (merecia minha câmera...)
Vendo arte nas lacerações do túnel da estação de trem de Deansgate.
Deansgate train station .
Having a full English breakfast... for lunch!
Sausages, beans, eggs, bacon, toasts, black pudding, mushrooms, tomatoes e hash brown!
A doença coronariana aguda vem de sobremesa!
Pedacinho da ponte ali em Deansgate.
E é isso aí, folks!
Fiquem agora com a última foto da noite, que é a provável síntese dos meus próximos meses...

É... as aulas começaram! Trocando termos em português por termos em inglês, só na base de muitos candies!
Dá-lhe Skittles!
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