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segunda-feira, 6 de maio de 2013

"Então quer dizer que você vai perder um ano?"

É batata: acadêmico de Medicina que tenta o Ciência sem Fronteiras acaba tendo que responder a essa pergunta mais cedo ou mais tarde. Acontece que todo mundo fica meio desapontado quando descobre que você não vai cursar a Medicina propriamente dita na Inglaterra. Alguns ficam super inconformados, discutem, debatem e gritam: "Mas você vai atrasar sua formatura!!!".
Mas e aí, como driblar essa galera chata?

Pois é galera, como eu já disse no post passado, não tem como ir pro Reino Unido pelo CSF sem atrasar um pouquinho a sua formatura, se você é medstudent. Não tem mesmo
É até interessante pra você ponderar as prioridades na sua vida se você quer tentar esse intercâmbio. Você está nesse curso pra ganhar dinheiro rápido? Tá doido pra se formar e começar a ficar rico? Então repense a ideia do programa. 

Contando sobre a minha experiência pessoal, eu posso dizer que apesar de eu ter escutado esse papo de "atrasar" e "perder" algumas (muitas) vezes, soube responder sempre com os melhores argumentos. E eu vou convencer vocês de que esse tempo não é nem de longe perda de tempo. Chega a ser ofensivo pensar dessa forma!!! Claro que eu vou dar ênfase no meu curso e nos meus motivos, mas se você cursa outra coisa na faculdade, pode facilmente adaptar o pensamento a seu favor.

1. Formar bem não é sinônimo de formar rápido.
Taí uma parada que me irrita. Parece que está incrustado na cabeça da maioria dos formandos que quanto mais rápido você pegar seu canudo, melhor médico/profissional você vai ser. Sabem o que eu penso disso? Bullshit. Você vai ser um bom profissional se você tiver uma formação acadêmica boa, e nisso se inclui seu próprio esforço na faculdade mais do que todos os outros fatores. Honestamente, que credibilidade tem um médico de 24 anos no mercado de trabalho? Pois é. Por isso que eu realmente não me importo de "perder" um ano. Verdade seja dita, eu estarei ganhando esse ano, em forma de um conhecimento a que eu não teria acesso no Brasil, um super up no currículo!

2. Quando você vai ter essa chance de novo?
Diz aí, quando? A não ser que você venha de uma família de classe média alta, com possibilidade de sair gastando dilmas pra viajar por aí, é bem improvável que você tenha a chance de ficar um ano rodando a Europa assim. Melhor aproveitar, né?

3. Acrescentar conhecimento vs. substituir conhecimento - a problemática de quem faz graduação sanduíche convencional. 
Primeiro de tudo, o que eu quero dizer com graduação sanduíche convencional? Bom, o próprio nome já diz: um "sanduíche". Você começa a fazer um curso superior no Brasil, vai pra fora e faz um pedaço desse mesmo curso fora, e completa o mesmo ao retorno. Tá, e qual seria a danada problemática?
Eu - e isso é mais pessoal impossível - acho um tanto quanto arriscado ir para um outro país, onde muito dificilmente você domina 100% da língua nativa, e querer aprender com decência todo o conteúdo lecionado, que em teoria (e na prática) faz parte da sua formação profissional!
Por que eu estou indo, então? Basicamente porque eu não vou fazer Medicina propriamente dita lá. Então eu não corro riscos de, por exemplo, assistir a uma aula de Cirurgia em inglês, ficar viajando na maionese e acabar não aprendendo aquilo. Em vez de sair ganhando, eu sairia com um prejuízo de dar dó!
Do jeito que eu estou fazendo, eu só tenho a ganhar. Vou aprender coisas que eu não teria a menor condição de aprender aqui no Brasil durante a faculdade. I win!

4. Enriquecimento cultural.
Esse foi inclusive um dos meus pontos no Personal Statement. Vamos ser coerentes: não só na Medicina, mas em todas as profissões que exigem pelo menos um pouco de relações inter-pessoais,  quanto mais CULTURA você tiver, melhor. Por que? Porque as pessoas são diferentes! 
Pra ser um médico bom, você tem que saber lidar com as mais diferentes personalidades. Você vai atender brancos, negros, pardos, amarelos, índios, judeus, católicos, crentes, ateus, alieníginas (opa, esse não) e tudo quanto há! Se você tem preconceitos, de duas uma: saia da profissão ou disfarce-o muito bem. 
Lembrem-se sempre do Physician's Oath: "I will not permit considerations of religion, nationality, race, gender, politics, socioeconomic standing, or sexual orientation to intervene between my duty and my patient." 
Se você ainda é um neanderthal e ainda carrega esse tipo de preconceito, uma experiência internacional talvez te ajude. Se você já é um ser mais evoluído, enriquecimento cultural nunca é demais!

5. Fator idade e maturidade.
Muita gente com quem eu conversei sobre isso acaba trazendo o fator idade pro papo, seja como "ah, mas tá certa, você é novinha!" ou "ah, eu não posso, eu já sou muito velho".
De fato, acho que o fato de que a maioria de nós estamos na casa dos 20 anos é um ponto muito a favor do intercâmbio. E daí se eu vou me formar com 25 em vez de 24 anos? Que grande diferença isso faz na minha vida? Nenhuma, né. Aliás, a única diferença expressiva que eu vejo é que uma pessoa de 25 anos que morou um ano fora acaba adquirindo uma maturidade/experiência de vida anos-luz à frente de uma da mesma idade que se formou um ano antes, com 24.
Quanto à galera que fala que está "muito velha" pra tentar, bom, eu não concordo com a maioria delas, mas entendo. A maioria dos universitários acaba sendo sustentado pela família, né (eu sei porque eu sou), e é chato ficar dependendo por um período maior. No meu caso, meus pais me deram total apoio, até porque eles não terão gastos comigo no ano que eu estarei fora, então tá tudo bem.
E também tem o pessoal que se sustenta, né, o que é ainda mais problemático. O que fazer quando voltar do intercâmbio? Como arrumar um emprego tão rápido? Coisas a se pensar.

6. Boost curricular.
Auto-explicativo, né? Ao final do intercâmbio, nós teremos um documento oficial dizendo que nós estudamos um ano em uma instituição de nível superior no exterior. Além disso, ainda tem aqueles três meses de estágio na indústria/pesquisa no exterior, que também dá um up e tanto no currículo de uma pessoa... vai que rola uma publicação internacional, já pensou?

Claro que pensando com calma, milhões de outros motivos mais que plausíveis surgirão pra justificar esse ano "perdido". Mas vamos combinar, depois desses seis pequenos itens listados acima, já dá pra mandar um perder um ano é o caralho! Eu estou é ganhando!

Beijo!

5 comentários:

  1. Olá Rayra. Sou calouro de medicina e esto muito interessado em participar do Ciência Sem Fronteiras. Meu objetivo era Portugal até que ele foi retirado dos editais, então agora estou de olho no Reino Unido também. Fiquei com uma dúvida ao ler sua matéria acima, quer dizer que esse ano de intercambio se torna um ano a mais na graduação, no caso aprendemos novos conteúdos e quando retornamos continuamos do ponto em que paramos? E você também citou que não se estuda medicina propriamente dita como temos aqui, e que tipo de conteúdo é estudado, pesquisas em áreas biomédicas e coisas do tipo?
    Obrigado.

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  2. Ei, Júnior, tudo bem?

    Eu entendo a sua preocupaçao sobre o assunto, mas não é beeeem assim. Aqui nesse post (http://rayrasemfronteiras.blogspot.com.br/2013/05/mamae-mandou-eu-escolher.html) eu expliquei mais detalhadamente sobre a escolha dos cursos, se você é estudante de medicina aqui no Brasil.

    Esse um ano "perdido" é inevitável se você for já do ciclo clínico (o que não é o seu caso, aparentemente, já que você é calouro), porque a parte clínica da medicina não nos é permitida por meio do CSF. Entretanto, como você lê no post que eu linkei acima, pra quem está ainda no ciclo básico, é possível cursar outros cursos com algumas disciplinas em comum com os primeiros períodos da faculdade de medicina... claro que não dá pra passar um ano e não perder nada, a não ser que sua uni brasileira seja bem flexível quanto a pagar matérias (o que não é o caso da minha), mas já é alguma coisa.

    Mesmo se você for pra Holanda, Hungria, ou outro país onde cursar medicina pp dita seja permitido, você vai acabar perdendo pelo menos 1 semestre.

    Espero que eu tenha elucidado sua dúvida. Qualquer coisa, só perguntar.

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    1. Tenho dois anos de ciclo básico e para poder me inscrever no CSF vou ter q cursar pelo menos 20% do meu curso que dá aproximadamente 3 períodos. No entento, eu também tenho que aprimorar bastante meu inglês básico/intermediário pra poder ir com confiança ao exterior, dessa forma sendo possível apenas ao final do segundo ano de curso mais ou menos. Ou seja, já estarei indo pra o ciclo clínico aqui na UFAL. Então eu tenho esse tempo pela frente pra pensar direitinho, eu particularmente tenho muita vontade de fazer o intercâmbio, já minha mãe acha melhor terminar a faculdade o mais rápido possível. Bem, de qualquer forma, obrigado por tirar minhas dúvidas. Sucesso pra você.

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  3. Olá Rayra, eu não curso medicina, mas particularmente amei o seu post e como você mesma disse adaptei para meu curso de graduação. Internalizei seus argumentos de uma forma e vou adota-los para utilizá-los como forma de defesa, quando alguém me disser que estou perdendo um ano da minha vida! Obrigada por compartilhar seus argumentos! Eu realmente precisava, beijos! Sucesso! :)

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  4. Rayra, você não tem ideia de como esse post se encaixou com cada dúvida minha. Também curso medicina e estava com muito medo de me inscrever no csf. Na realidade, o "atraso" da formatura não me assusta, mas não sei se na sua universidade daqui do Brasil o curso era tradicional ou pbl, o fato é que sou de uma graduação pbl. Não sei se vc conhece esse método, mas o trabalho em equipe é o que faz com que o curso caminhe de maneira eficiente. Eu, FELIZMENTE, estou em uma turma muito harmoniosa e fácil de lidar. Daí, vem o meu medo de sair do país, retornar para uma turma de relacionamento complicado e prejudicar a dinâmica da minha formação, me entende? O que vc acha sobre?? Gostaria de conversar um pouco mais com vc! Obrigada :D

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